quinta-feira, 2 de março de 2017

O AVESSO DO AVESSO


Eu, por ter sido sempre torto,
Pelo avesso,
Errado e errante,
Por ter sido sempre,
Aquele que almeja,
Que espera,
E que sonha.

Por ter sido sempre assim,
Eu não possuo medida,
Nem parâmetro,
Nem esquadro,
Nem régua,
Nem roteiro,
Nem rumo,
Nem filtro,
Nem freio.

Nem isso,
Tão pouco aquilo,
Eu não possuo nada,
Que não seja a própria vida,
Ainda que muitas incansáveis vezes,
Eu não saiba nem o que fazer com ela,
Mas a tenho, é minha, e só minha, de mais ninguém.

Pago diária e rotineiramente,
Todos os preços por mantê-la até hoje,
E vou vivendo,
Porque todo dia o sol nasce,
E não me pede licença,
A estrada é longa, árdua,
Cheia de pedras e obstáculos,
Mas deve ser trilhada.

Enquanto isso,
Eu vou seguindo,
Enquanto algo quente,
Escorrer por minhas veias,
Enquanto algo em mim pulsar,
Eu vou sendo,
Eu vou seguindo.

Como um trem desgovernado,
Como uma nau sem timão,
Como um automóvel sem freio,
Eu vou seguindo,
Sem rumo, sem vela, sem direção.

Na busca de chegar,
A lugar algum,
Porque o destino,
É coisa incerta,
É aquilo que se busca,
E nunca alcança.

É o desejo,
Quase materializado,
Mas que nunca se materializa,
Porque saciedade,
É coisa que não se atinge,
É como uma coçeira que se atiça,
Mas que nunca passa a vontade,
É ferida aberta,
Que nunca sara.

Márcio Castro, em 03/03/2017

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