terça-feira, 27 de dezembro de 2016

POEMA DO SANFONEIRO



Quem é você seu moço?
Sei falar assim não,
Sei dizer assim não,
Sei cantar assim não.....

Não sei ser bonito assim não,
Não sei ser assim não,
Nem sei SER,
Assim....
Não.......
Só canto torto porque,
Torto é meu canto,
Torto sou eu,
Canto torto,
É o que sou.

E nesse fole,
Vou e venho,
Venho e vou.

Pra onde não sei,
Pra onde quem sabe,
Pra perto,
Pra longe,
Pra onde?
Soa o fole,
Canta o fole.....

E lá se vai o sanfoneiro......
Não sei meu Deus....
Pra quê?
Nem imagino meu Deus......

Mas tem as mãos,
Mas tem os dedos,
Mas tem os acordes,
Mas tem os foles,
Mas tem o destino,
Mas tem as escolhas......

Mas tem tudo isso,
E não tem mais nada,
Mas tem os sonhos,
E tudo que os valha......

Márcio Castro, em 28/12/16

domingo, 20 de novembro de 2016

POESIA DO ACASO



Viver,
Seguir vivendo,
Continuar vivo.......

...............................

Haverá sempre rosas,
Mas também espinhos,
Amores, desamores,
Felicidades, infelicidades.......

Aquele momento que poderia ser,
Que era quase,
Que não foi,
Mas que poderá ser.................

MAS ESTAR VIVO..........
NOS DEIXA UM GOSTO DOCE E AMARGO NA BOCA,
QUE NÃO TEM TRADUÇÃO...............

domingo, 16 de outubro de 2016

Vai mundo

De ti,
Eu não quero mais nada,
Além das boas lembranças,
De uma infância ambígua,
Que se fez entre alegrias,
Tristezas, frustrações,
Sorrisos, lágrimas,
Desesperos, dor
Absurdos.....
E o Real,
A realidade das coisas vivas,
A falta de sonhos e jornal do dia,
Para ler na cabeceira de sua rede,

O que resta são retalhos de uma vida
Que não sei se vivi,
Se foi boa ou má

Hoje de ti,
Só me restam certas heranças,
Cabelos brancos,
Pernas finas,
Um olhar sedutor,
E não sei mais o quê.

E nessa trilha,
Eu digo no incerto,
Adentrando no desconhecido,
Lançando- me em abismos
De mim mesmo,
Sem rumo,
Sem era, nem beira
Só sendo
E deixando a vida acontecer,

Mas eu pergunto
Vais pra onde?
Espero que pro mundo

E torno a perguntar
Rai pra donde?
Espero que pro mundo

Raimundo

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O SONHO DE ÍCARO



Eu durmo muito,
Eu perco a hora,
Eu perco a data,
Eu perco a linha,
Eu perco tudo......

Eu perco a mim mesmo,
Eu perco o trem da vida,
E padeço na mesma estação,
Todos os dias, todas as horas,
Como alguém que cativou um assento,
Que na inercia das coisas,
Todos os dias,
Ver o trem da vida passar,
E que nunca embarca,
Nunca toma um rumo,
Nunca desperta,
Com o estalo da vida,
Que nunca toma a iniciativa,
De se lançar no mundo,
Quando o trem apita,
E convida a se lançar,
No obscuro e no infinito,
Na incerteza das coisas,
Nos infortúnios da vida.

Porque o abismo é profundo,
E também incerto,
E o medo é latente,
Medo de não ter o pão,
Medo de perder o chão,
Medo de perder o teto,
Medo de ficar sozinho,
Medo do vazio,
Medo de VIVER.

Viver a realidade das coisas,
Da realidade da vida,
De encarar um jornal,
Como cama,
Numa noite fria.

Mas o que me falta,
São asas,
Porque com elas,
Não terei,
Necessidade de chão,
Com asas poderei voar,
Poderei migrar,
Como todas as aves o fazem,
Com asas,
Não teria preocupação,
Com terra firme,
Com ruas, ceps e endereço.
Com asas.....
Eu seria livre....

Com asas,
Eu veria tudo de cima,
E tudo seria tão pequeno,
Tão ínfimo,
E insignificante,
Eu que já fui anjo de procissão,
Encima de um andor,
Todo de branco e glorioso,
Onde estão minhas asas?
Eu preciso delas......

Márcio Castro em 26/08/16

quinta-feira, 16 de junho de 2016

VAMOS MATAR


Para as vítimas de Orlando

SE É EM NOME DE DEUS OU DO DIABO,
SE É PRA LIMPAR OU IMACULAR A ORDEM E HUMANIDADE......

VAMOS MATAR 50 PADRES PEDÓFILOS;
VAMOS MATAR 50 PAIS, TIOS, FAMILIARES E
AMIGOS QUE ABUSAM DE CRIANÇAS;
VAMOS MATAR 50 PASTORES PEDÓFILOS EVANGÉLICOS QUE TAL COMO O EXEMPLO DE SALVADOR, ESTUPROU COLETIVAMENTE, ABUSOU DE TODAS AS FORMAS E QUEIMOU UM MENINO ADOLESCENTE;
VAMOS MATAR TODOS OS IRMÃOS MAIS VELHOS, PRIMOS, TIOS E AMIGOS DESSES QUE BULINAM E ROMPEM ÍMENS DE MENINAS, MESMO NÃO CONSUMANDO O ATO SEXUAL OU PENETRAÇÃO;
VAMOS MATAR 50 EM NOME DE ALÁ, DE JESUS, DE MORONI, DE LUCIFER E QUEM MAIS O VALHA...... PORQUE SEMPRE TERÁ ALGUÉM PRA JUSTIFICAR AS ATROCIDADES;
VAMOS MATAR PORQUE É DIVERTIDO, PORQUE SAI NO NOTICIÁRIO DA TV;
VAMOS MATAR PORQUE PODEMOS;
VAMOS MATAR E DEPOIS BATER O PONTO NA FÁBRICA ONDE TRABALHAMOS,
PORQUE MATAR,
TOMAR UM CAFÉ COM PÃO AMANTEGADO,
POSSUI A MESMA LÓGICA EXISTENCIAL

Márcio Castro em 14/06/16

terça-feira, 14 de junho de 2016

POEMA PARA CLARICE


Mulher,
Fêmea,
Feminina,
Feminista,
Recatada,
Escritora,
Inconformada,
Rebelde.

As vezes terra,
As vezes ar,
As vezes pé sem chão,
As vezes tudo,
As vezes nada,
As vezes a inércia,
As vezes movimento puro,
As vezes tudo que foi tudo,
As vezes tudo que não foi dito,
As vezes tudo que há por dizer.

Para:

Clarice Lispector

Márcio Castro em 14/06/2016

segunda-feira, 13 de junho de 2016

DA IMPOSSIBILIDADE DAS COISAS



Quem me dera as noites,
Fossem mais frias,
Mais sublimes,
Mais reveladoras,
Mais isso,
Mais aquilo....

Quem me dera as noites,
Fossem mais,
Sempre mais,
Absolutamente mais.

Assim as noites,
Nunca passariam em claro,
Sempre seriam uma festa,
E tudo seria perfeito.

Não existiria tédio,
Nem ausência,
Nem sonho,
Nem imaginação,
Nem recalque,
Nem trauma,
Nem desejo,
Nem nada,
Que gerasse,
Uma patologia na alma.

Tudo seria,
Estranhamente,
Absurdamente,
Absolutamente,
Insuportavelmente,
Utópico,
Perfeito,
Imaginável,
E infinitamente,
Inatingível.

Márcio Castro em 14/06/2016

domingo, 12 de junho de 2016

ONDE ESTÃO MINHAS COISAS?


“Poema dedicado às Meninas do Cabaré, um coletivo teatral de Fortaleza.
E também aos meus queridos Dário Bezerra e La Belle.”


Cor rosa,
Papel de carta,
Sentar de pernas fechadas,
Caligrafia bonita e perfeita,
Coisas de meninas.

Boneca,
Baton,
Rímel,
Blush,
Sombra,
E todo tipo de maquiagem,
Coisas de menina.

Passar horas se produzindo,
Produzir-se para saber a opinião das amigas,
Produzir-se para seduzir meninos,
Coisas de meninas.

Mas.........
E eu?
E eu que.......
Gosto de cor rosa,
Papel de carta,
Sentar de pernas fechadas,
Caligrafia bonita e perfeita,
Boneca,
Baton,
Rímel,
Blush,
Sombra,
E todo tipo de maquiagem,
Que passo horas me produzindo,
Produzo-me para saber a opinião das amigas,
Produzo-me para seduzir meninos.

Mas, no entanto,
Não sou menina,
ONDE ESTÃO AS MINHAS COISAS???????


Márcio Castro em 08/06/2016

domingo, 22 de maio de 2016

LUTAR COM PALAVRAS


Viver e lutar com palavras,
É ofício que não se mede,
Não se exata,
Não se cura.

Viver e lutar com palavras,
É a certeza do pulo,
Em trampolim,
Na piscina vazia.

Lutar com palavras,
É a certeza,
Da incerteza,
De que nada é certo,
Que existem erros,
Que suplantam a poesia,
Que não existe gesso,
Que estanque a palavra,
Sua origem,
Sua forma,
Sua ante origem,
Sua não forma,
Suas possibilidades,

Lutar com a palavra,
Está para além da verdade,
De todas as coisas,
E de tudo,
Que através dela,
Pode ser representado,
Figurado,
Indicado,
Suscitado,
Intencionado,
Validado,
Ou invalidado.

LUTAR COM PALVRAS,
É saber,
Antes de tudo,
Que a gramática,
Que a ortografia,
Que todas as regras,
Que a pertencem,
São,
E sempre serão,
Aquela roupa,
Que se veste,
Mas que nunca,
Cairá perfeitamente.

Márcio Castro, em 22/05/2016

domingo, 1 de maio de 2016

PIES CANSADOS



Yo soy aquél,
Que por toda mi existencia,
Jamás ha pedido permiso a la vida,
Que siempre ha recurrido,
A lo que se hace fácil,
Por caminos,
Veredas,
Senderos,
Grutas,
Calles.

Que nunca,
Se me ha llevado,
A destino alguno.

Soy el caminante,
Del infinito,
Con mis pies cansados,
En la ruta,
Del infinito.

Márcio Castro, al 01/05/16.

CHEGAR AOS 80


Chegar aos 80
Pode ser um fim,
Pode ser um começo,
Pode ser um meio.

Aos 80 anos,
Encarar um simples espelho,
Pode nos trazer inúmeras possibilidades,
Imagens e constatações,
Boas ou ruins,
Porque ao chegar-se aos 80,
Muitas coisas já se foram,
E tantas outras foram conquistadas.

Chegar aos 80,
Pode ser imensamente desagradável,
Ou imensuravelmente aprazível,
Pode ser rugas infinitas,
Dores crônicas,
Incapacidades,
Limitações,
Ócio,
Cansaço,
Vazio,
Tédio,
Solidão,
Esquecimento.........

Chegar aos 80,
Pode ser também,
Uma vida cheia de glórias,
Um caminho já percorrido,
Cheio de marcas adquiridas,
Mas também marcas deixadas,
Porque a vida é faca de dois gumes,
Nunca se feri,
Sem nunca ter ferido,
Assim como não se chega aos 80 sem marcas,
Não se chega aos 80 sem marcar ninguém,
Porque a vida nunca foi via de mão única.

E só por isso,
Chegar ao 80
É colher flores e frutos,
De uma vida toda,
É acumular amores,
Somar coisas,
Muitas vezes,
Aparentemente,
Ínfimas e inúteis,
Mas que não se conquista,
Quando não se chega aos 80.

Por isso devemos celebrar,
Quando se chega aos 80,
E nunca questionar,
Nada,
Somente agradecer,
Porque a vida,
É um PRESENTE.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

POEMA DA SUBLIMAÇÃO




SUBLIMAR,
SUBLINHAR,
ESQUECER,
ABSTER,
ABNEGAR,
ENGAVETAR,
RETROCEDER,

EU CUSPO,
TU COSPES,
ELE COSPE......

NÓS SOMOS,
VÓS DEVEIS RESPEITAR,
ELES HÃO DE PAGAR.

Márcio Castro em 19/04/2016

quarta-feira, 23 de março de 2016

ALMA DE CAÇADOR


Quando se acercas a mim,
Tu, todo esse que me fita,
Que espreita,
Com olhares sedentos,
Eu me recolho a mim,
Me encerro num ostracismo,
Me escondo numa gruta só minha,
Real, imaginária, não sei,
E quem há de saber?

E dito isso,
Afirmo e ratifico,
Não sou bicho do mato,
Não sou res solta na mata,
Não sou definitivamente,
Uma caça.

Mas muitas vezes recuo,
Me camuflo num mimetismo,
Absurdamente perfeito,
Para simplesmente,
Estudar,
Observar,
Arquitetar,
Projetar,
Agir....

Não sabe quem eu sou?
Pois veja bem......
Eu sou aquele,
A quem toda presa teme,
Eu sou um bravo caçador destemido.

Que sempre respeita,
Estuda e pensa sua presa,
Que nunca desperdiça flecha,
E que sempre acerta o alvo correto.

Eu sou aquele que reina na mata,
Porque dela vivo,
A ela tenho respeito,
E nunca abuso de qualquer coisa,
Que dela faça parte,
Porque sem ela,
Não existo.

Márcio Castro em 15/03/2016