sábado, 22 de fevereiro de 2014

COSTUREIRA DE CANÇÕES


Para Maria Bethania.

O meu canto,
Senhores,
Numa foi,
Nem nunca será,
Um ato solitário,

Eu canto,
Para se me fazer,
Para se me construir,
Para alimentar,
E construir,
Meu sujeito.

Mas no meu canto,
Senhores,
Ecoam muitas vozes,
Que não somente a minha.

Porque o meu canto,
Ainda que saia por minha garganta,
O meu canto é feito para o outro,
Ainda que todo meu canto,
Busque traduzir-me,
Revelar-me,
Ele busca, traduz e revela,
O outro,
Pois não fosse assim,
Nada valeria a pena.

O meu canto é um moisaco,
Um tecido inacabado,
Uma renda se fazendo,
Contínua e ininterruptamente,
Porque esse tecido sou eu,
Sou eu essas linhas,
E essa trama,
Sou toda essa colcha,
De retalhos,
Feita de palavras,
Lembranças,
E esquecimentos.

Márcio Castro, em 23/02/14

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