quarta-feira, 11 de junho de 2008

POEMA MORTO

A arte, a arte
De onde ela nasce?
De dentro, de fora
Paira, paira no ar
Espectro vagabundo
Que nem mesmo ao moribundo
Deixa morrer em paz

Vira, mexe, remexe
Expreme o pus e inflama a ferida
Por que não me largas?
De que ovário brotas?
Ah se eu soubesse!
Mandava arrancar-lhes as trompas
Por que não me tomas de uma vez?

Chega,
Me corteja,
Me embriaga

Será do real ou irreal?
Do sonho humano
Da inquietude,
Do ócio,
Não serves de nada!
Por que me atormentas?

Façamos o seguinte….
Deixe-me ao menos te engravidar!
Não, isso não,
Eres egoísta de mais
Jamais dividiria sua magia
Egoísta é o que eres!

Me tomas de quando em vez
Me conduz com tua lábia
Sabia matraca
Anunciando a morte lenta

Estou ficando eu louco?
Sai do meu caminho!
Por que me rondas assim?
Deixe-me em paz!

Senhora oniciente
Em tudo está,
Sabe de tudo.

Está em tudo,
Na mão da rendeira,
Do carpinteiro,
Do pedreiro,
Do pintor,

Na mente inquieta diente da tela

Chega, racha tudo como um terremoto
Baldeia tudo como um maremoto
Deixa tudo fora do lugar
E vai,
Já foi,
Mais uma uma vez,
Nada disse, nada fez,
Ou deixou tudo por fazer.

Eu queria poder te tomar nas mãos
Te enforcar
Para que soubesses
O sufoco da dor
De ter que criar

UNS

A vida sempre consegue um espaço no tempo
Para está e ser, sendo assim constante
Exata na maneira e imperante no sentido
Sem licença é e está

Porque ser é isto
É sendo que se está no mundo
Sujeito a tudo
Sujeito inclusive a outros sujeitos

É sendo que se é
É cada instante
É cada decisão
É

É sendo uno ente milhões
Que se é
Que se está
Que se sendo
Que se estando

Em cada caminho trilhado
Em cada escolha
Certa ou errada
Se assim sendo
É simples e doloroso assim
Ser sendo a cada instante

Uno duo ou coletivo
Se é assim sendo
O que se sabe é
Que enquanto se é
Devemos ser
Assim cada um
E o outro

Esse outro muitas vezes necessários
E rechaçável
Imprescindível
Indispensável

Entre o uno e o outro
Muitos conflitos
Muitos acertos
Muitos erros
Muitas certezas
Muitas ilusões
Muitas necessidades
Muito mistério

POEMA DA SAUDADE

Se eu pudesse dizer saudade

Se eu pudesse dizer saudade
Um grito ecoaria no Planalto
Pularia cercados e soaria
Como trombetas anunciando
O apocalipse interior

Se eu pudesse dizer saudade
Deixaria tudo em cacos de vidro
Porque o grito seria ininteligível
Que somente um olhar poderia traduzir a dor

Se eu pudesse dizer saudade
Não estaria mais aqui
Mas não posso dizer, nada

Se eu pudesse dizer saudade
Ninguém entenderia, ninguém
Por isso fico só, só eu e a saudade

Para meu amigo-irmão Rodrigo de Freitas

O POEMA DO DESESPERO

Espero, espera, desespero
O tempo, uma fábula
Sem moral, na verdade
Imoral, na essência

Tocar, sentir, cheirar
Passam casais comprados
Desespero, esperanças, gastos
Tudo ilusório, ilusão erótica
Tudo difuso, confuso
Se vai, se esvai em pó
Tudo uma mentira só