segunda-feira, 10 de novembro de 2008

SE VAI PENSAR

Se vai pensar
Se vai dizer
Se vai enformar

Minha escrita é assim mesmo
Vagabunda
Ordinária por essência

É assim como um café pingado
Num bar qualquer
Onde a vida flui
Onde as pessoas são
Onde tudo é igual
E ao mesmo instante singular

É a água do esgoto
Que corre para as bocas de lobo
E se esvai assim
Pra lugar nenhum

E chega no mar
Pra remoer
E refazer-se
E voltar pra onde se refaz
Daquele que rechaçou outrora

O esgoto reclama a glote
É sobra indigente
É quase gente
É In de Gente
Este dentro de nós

É o que escapa
E ao mesmo instante
Imprescindível
Necessário

O que se ejeta
É o amor que se mata
O homem é mestre
Em matar o essencial
E super valorizar o supérfluo.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

MARIA

Maria,
Cadê você Maria?
Te procurei na noite infinda
Te procurei na noite inteira
Noite e dia onde tudo infinda

Maria, onde te perdestes Maria?
Te procurei na tua vogal
Onde tuas sílabas começam e findam
mAriA
Assim aberta, assim A
Não menos sonora
mAriA

Abrem-se portas
Fecham-se fendas
E lá está Maria
Sempre no mais previsível das coisas
Ao mesmo tempo fugidia

Ausente na matéria
Presente na memória
Maria

Até quando ansiar por esse colostro vital
Até quando me amamentar da tua seiva-leite
Até quando tua teta agüenta
Até quando eu agüento
Até quando

Quizá estejas no mAr
Enquanto riA

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

SUJEITO

Macho, fêmea
Porco, porca
Cão, cadela
Cavalo, égua
Poca, parafuso
Homem, mulher

Quase uma charada desvendada
Quase um reboco perfeito
Quase um hímen imaculado

E o caos?
E a diferença?
E o que nasce e cresce?
E o que nunca é igual?
E as influências?

E O SUJEITO?
Como se constrói?
Como se destrói?
Como se castra?

Macho, fêmea
Porco, porca
Cão, cadela
Cavalo, égua
Poca, parafuso
Homem, mulher

Completam-se assim
Como nesse verbo reflexivo
E por quê esse verbo reflexivo?
RE - FLEXIVO

Porque tudo está a ponto de voltar atrás
Essa ré que nunca é dada
Essa marcha que nunca anda
Esse rever que nunca é visto

E O SUJEITO?

Está ai, e o SUJEITO?
Por quê SUJEITO?
Por que é sempre passível de um olhar
Se não, não seria SUJEITO
Porque o sujeito se Sujeita
E isso basta
Porque é passível de sujeitar-se

Do tapa à cara
Da lama, da casca da banana

Assim como a vida é ordinária
Assim como acordar e fazer café
O que foge disso é sujeito a algo
A um olhar crítico
E por isso extraordinário
É tangente que gera algum caos
E faz o motor da vida girar

E O SUJEITO?
Onde eu finco o SUJEITO?
È possível fincá-lo?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

A VERSÃO

Aversão ao que foi dito
O dito ao avesso
A versão
Aversão

O dito não pode ser repetido
Já foi
Já é
Escapou
Quem pegou?

Tentar dizer o dito
É impedir que outrem construa
Deixa, deixa o outro pensar
Elaborar, construir
É necessário.

CALA-TE



“Não existiria som se não houvesse o silêncio”
Lulu Santos


SILÊNCIO
Palavra exata
Semanticamente inconfundível
O contrário do rebento
O efeito da castração

SILÊNCIO
Maldito o silêncio
Que tudo cala
Que tudo encerra
Semente improdutiva
Ventre infértil

SILÊNCIO
Há uma impossibilidade
Em descrever o silêncio
Porque toda palavra se faz
E a palavra silêncio
Quando se faz
O vazio entra em cena

Deveria existir um silabário
Específico para o silêncio
Mesmo a escrita braile
Faz-se movimento
Que começa com os dedos
E termina na interpretação

SILÊNCIO
CALMA
ESTAMOS NUM HOSPITAL

SILÊNCIO

segunda-feira, 14 de julho de 2008

POR AQUI, POR ALI

MÚSICA I

Eu te quero perto
Eu te quero eterno
Eu te quero interno
Eu te quero etéreo

Eu te quero impregnado
Eu te quero volátil
Eu te quero intacto
Eu te quero usado

Eu de ti, quero tudo
Eu de ti, quero o gosto
Eu de ti, quero o gozo

Eu te quero virótico
Eu te quero neurótico
Eu te quero paranóico
Eu te quero na veia
Eu te quero na teia

Eu te quero por todos os queres
Até mesmo aqueles que não quero
Que não devo, que não posso
POR AQUI, POR ALI

quarta-feira, 9 de julho de 2008

O QUE SOMOS

O que somos?
Somos a promessa
De um aborto
Mal feito
O que sobrou da poesia
É um poema maldito
Somos um aborto
Sem causa.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

POEMA MORTO

A arte, a arte
De onde ela nasce?
De dentro, de fora
Paira, paira no ar
Espectro vagabundo
Que nem mesmo ao moribundo
Deixa morrer em paz

Vira, mexe, remexe
Expreme o pus e inflama a ferida
Por que não me largas?
De que ovário brotas?
Ah se eu soubesse!
Mandava arrancar-lhes as trompas
Por que não me tomas de uma vez?

Chega,
Me corteja,
Me embriaga

Será do real ou irreal?
Do sonho humano
Da inquietude,
Do ócio,
Não serves de nada!
Por que me atormentas?

Façamos o seguinte….
Deixe-me ao menos te engravidar!
Não, isso não,
Eres egoísta de mais
Jamais dividiria sua magia
Egoísta é o que eres!

Me tomas de quando em vez
Me conduz com tua lábia
Sabia matraca
Anunciando a morte lenta

Estou ficando eu louco?
Sai do meu caminho!
Por que me rondas assim?
Deixe-me em paz!

Senhora oniciente
Em tudo está,
Sabe de tudo.

Está em tudo,
Na mão da rendeira,
Do carpinteiro,
Do pedreiro,
Do pintor,

Na mente inquieta diente da tela

Chega, racha tudo como um terremoto
Baldeia tudo como um maremoto
Deixa tudo fora do lugar
E vai,
Já foi,
Mais uma uma vez,
Nada disse, nada fez,
Ou deixou tudo por fazer.

Eu queria poder te tomar nas mãos
Te enforcar
Para que soubesses
O sufoco da dor
De ter que criar

UNS

A vida sempre consegue um espaço no tempo
Para está e ser, sendo assim constante
Exata na maneira e imperante no sentido
Sem licença é e está

Porque ser é isto
É sendo que se está no mundo
Sujeito a tudo
Sujeito inclusive a outros sujeitos

É sendo que se é
É cada instante
É cada decisão
É

É sendo uno ente milhões
Que se é
Que se está
Que se sendo
Que se estando

Em cada caminho trilhado
Em cada escolha
Certa ou errada
Se assim sendo
É simples e doloroso assim
Ser sendo a cada instante

Uno duo ou coletivo
Se é assim sendo
O que se sabe é
Que enquanto se é
Devemos ser
Assim cada um
E o outro

Esse outro muitas vezes necessários
E rechaçável
Imprescindível
Indispensável

Entre o uno e o outro
Muitos conflitos
Muitos acertos
Muitos erros
Muitas certezas
Muitas ilusões
Muitas necessidades
Muito mistério

POEMA DA SAUDADE

Se eu pudesse dizer saudade

Se eu pudesse dizer saudade
Um grito ecoaria no Planalto
Pularia cercados e soaria
Como trombetas anunciando
O apocalipse interior

Se eu pudesse dizer saudade
Deixaria tudo em cacos de vidro
Porque o grito seria ininteligível
Que somente um olhar poderia traduzir a dor

Se eu pudesse dizer saudade
Não estaria mais aqui
Mas não posso dizer, nada

Se eu pudesse dizer saudade
Ninguém entenderia, ninguém
Por isso fico só, só eu e a saudade

Para meu amigo-irmão Rodrigo de Freitas

O POEMA DO DESESPERO

Espero, espera, desespero
O tempo, uma fábula
Sem moral, na verdade
Imoral, na essência

Tocar, sentir, cheirar
Passam casais comprados
Desespero, esperanças, gastos
Tudo ilusório, ilusão erótica
Tudo difuso, confuso
Se vai, se esvai em pó
Tudo uma mentira só

quarta-feira, 5 de março de 2008

DE TI

De ti nada sei
Também pudera só te vejo a face
Face explicita que me faz ver
Ver a mim mesmo diante de ti
Tu toda esse figura cubista
Destorcida e cheia de imperfeições
Esfinge a me devorar

De ti quase nada sei
Esse Édipo a me culpar
Essa seda a mi tocar a face
Esse corpo composto de cicatrizes e marcas
Esse olhar profundo e distante
Essa boca carnuda a me tragar

Vejo muito mais a mim que a ti
Quando vejo o teu desejo
Embrulhado numa magia fascinante
Na volúpia de cada gesto
De cada palavra quase dita
Do silêncio profundo
Do proferimento de coisas ininteligíveis
Quando te vejo comendo palavras
Entornando sentidos
Sua garganta seca e amarga
Pigarro que não te deixa
Ostra encrustada na pedra
Pedra atirada na alma

Quando te vejo brincando no vazio
Me sinto um vácuo na existência
Por que abriste a caixa de Pandora
Agora sofres a fúria dos titãs
Pobre inocência disfacelada
Os deuses não perdoam
Os deuses magoam e punem
Sem piedade ou perdão
Porque sofres a ação dos raios de Zeus
Porque es humano e imperfeito

domingo, 17 de fevereiro de 2008

DERRAME

É pra derramar, derramei
Foi tudo, está tudo lá
Diluído no sonho
Junte e saiba o que é

Estou eu todo lá
Derramado e diluído
Somado e disperso
Estou eu, estou eu, lá

Me reconheça
Me junte
Como num jogo
Um quebra-cabeça
Como um enigma
Como uma coisa
Confuso, difuso

Estou eu lá, todo lá
Em pedaços, migalhas, fagulhas
Estou eu lá , num instante só
Presente, ausente, mais-que-perfeito

Eu pensei ser tudo
Pensei ser mais que perfeito
Enquanto pretérito
Enquanto futuro
Enquanto furo

PRIMEIRO CONTATO

Oi visitantes,

O farpas de palavras agora não tenho muito o que dizer, mas confesso que em breve trarei meus textos para que possam ter acesso a minha literatura.