quarta-feira, 30 de maio de 2012

NO SOFÁ DA HEBE - RECEBENDO O FRACASSO....


Mesmo que tudo falhe,
E que as coisas não sejam,
Nem se façam....
E que no fim de tudo....
Me venha o fracasso...

Ainda assim,
E só dessa forma...
Poderei proceder de forma tal,
Que não poderia ser diferente....
Seguirei e a recebei,
Com toda pompa,
Toda gloria,
Toda honra,
Comment il faut.

..................................................

E diante de ilustre conviva,
Colocarei a chaleira no fogo,
Verificarei as cubas de gelo,
Farei a conferência minuciosa,
Do meu estoque de bebidas.

......................................................

Café eu terei,
Dos melhores grãos,
Destilados e fermentados também,
E das melhores procedências.

Porque receber é....
Acima de tudo,
Um ato contínuo
E extensivo do sujeito de cada um...

............................

E assim,
E como for ou seja...
Ainda que me bata a porta o fracasso...
Não poderei me desfazer,
De tal honra.

E com toda pompa,
E de toda glória,
Que me traduz,
Recebê-la-ei em meu lar,
Com toda dignidade merecida.

E certo de que dessa gentileza,
Sacarei como saldo,
Elementos indispensáveis,
De tudo que se me fez
E se me faz
E se me é

De tudo aquilo que,
Enquanto pulsa,
Enquanto vivo,
Enquanto existo,
Enquanto valho,
Se me resta.

Porque quem lhe reclama,
Reclama por algo...
Algo que é seu.

E não seria diferente com o fracasso.

Algo que você,
E que somente você,
Consigo mesmo,
É capaz de rechaçar,
Ignorar,
Ou ceder

..............................

O que é seu,
Ou se fez ou faz-se seu,
De nada mais ninguém será.

E se o fracasso,
Bater em minha porta....
Comerá e beberá do melhor,
Como se estivera em Pasárgada,
E fora amigo do Rei.

Terá tudo
E todos
E o que não se encaixa em tudo,
Nem em todos,
Não se terá,
Por falta de merecimento.
Afinal,
Não se pode tudo ter,
E isso não seria privilégio,
Do fracasso

Visto que,
Segundo Plantão,
Morre-se,
Quebra-se,
E finda-se,
O objeto.
E nada menos que isso.
Visto que a ideia,
Permanece viva.

E eu não sou objeto,
Sou sujeito,
E não sujeitado,
Sou a própria ideia
Sou o que não se apaga,
A certeza do que se refará,
Ainda que fragmentado seja.

Cabreiro e meio Adriano de Vidas Secas,
Chegará a mim o fracasso,
Mas não terá a mim
Muito menos a tudo e a todos,
Tão pouco,
Ao que me convêm.

A certeza,
E tudo que se possa imaginar,
Desse confronto,
É o que direi a seguir.

.....................

Ao acionar a campainha,
Será bem acolhido,
Isso é bem verdade,
Pois,
Passado o umbral de minha porta,
Todos são amigos do rei,
Ainda que não viva em Pasárgada.

Porque prescindo de linhagem,
E isso se me constrói,
Se me faz,
É o que sou.

Para findar e resumir:
Nos cumprimentaremos,
Sentaremos e beberemos,
Seremos, por assim dizer,
Civilizados?

Conversaremos,
Por horas a fio.
..........................

Ninguém comerá ninguém,
Ficaremos diante da realidade,
Pasmados e contemplativos,
E reais.

E tudo será pequeno,
Pouco,
Ou insuficiente,
Frente a tudo o que,
Potencialmente poderia ser.

...................

Assim,
Terminará tudo.

As xícaras serão recolhidas,
O café já terá sido devidamente consumido.

E as coisas.....
Ah.......
As coisas tomarão seu rumo,
Como sempre foram,
São....
E terão de ser

........................

O fracasso terá batido em minha porta,
Terá sido dignamente bem recebido,
E por isso,
Dar-se-á por satisfeito.

E dessa forma,
Seguirá seu rumo,
Sua trajetória absoluta,
Rechaçável e ignóbil,
E sem mais por quês!!!!
Passará.

Assim como tudo passa,
Como o tempo,
Suas cinzas e suas horas.

Horas que não são minhas,
Nem suas,
Nem de ninguém,
E sim, do poeta.

Observação:
Peço desculpas,
Sinceras desculpas,
Já comentei vários crimes literários,
Parafraseei,
E roubei ideias geniais,
De gênios tais,
Que não me cabem citá-los,
Para não empobrecer,
Ainda mais esse texto

Mas confesso....
Que não seria digno,
Terminar tudo isso,
Sem uma citação
De uma das canções,
Da mais genial e recente,
Contemporânea cantora,
Marginal que conheci,
Nos últimos tempos:
Miss: Amy Winehouse

“And in your way
My deep shade
My tears dry on their own”

(Amy Wine house.)

ça me suffit.


Márcio Castro

Em 30/05/12



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